Desafios da pessoa com deficiência visual: depressão e exclusão social
Fala pessoal, tudo bem com vocês? Meu nome é Isabela Galvão, tenho 23 anos e estou no 6° período do curso de Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Atualmente participo do programa da Proex denominado PUC Inclusiva e hoje vou falar um pouco sobre as dificuldades das pessoas com deficiência visual nos dias atuais.
A visão é o sentido humano que mais possui riqueza de detalhes, afinal, ele é responsável por 80% das informações captadas do meio externo. Devido a este fato, o olho humano tem sido comparado a uma câmera fotográfica que recebe, foca e transmite a luz através de uma lente para criar imagens de um ambiente. De acordo com dados do IBGE (2010), 6,5 milhões de pessoas apresentam deficiência visual severa, sendo que 506 mil têm perda total da visão (0,3% da população) e 6 milhões, grande dificuldade para enxergar (3,2%). Essas pessoas que perderam essa função sensorial, são guiadas diariamente pelos outros sentidos.
A deficiência visual é caracterizada pela redução ou perda total da capacidade de ver em ambos os olhos em caráter definitivo, que não pode ser melhorada ou corrigida com o uso de lentes, tratamento clínico ou cirúrgico. Dessa forma, existem duas situações que precisamos entender: nascer cego e ficar cego. Nestes dois casos, os processos psicológicos são completamente distintos, pois, ficar cego implica, geralmente, em atravessar um processo de negação e luto até a aceitação.
Ao fazer uma pesquisa para escrever este texto para o blog do PUC Inclusiva, li um artigo escrito pelos autores Nunes e Lomônaco de 2010, do qual os estudos realizados mostram que quanto mais cedo ocorre a perda da visão, mais essa condição influencia o desenvolvimento do sujeito e, quanto mais tarde a cegueira se apresenta, mais as características de personalidade anteriores à perda têm peso maior na formação do indivíduo. Vale ressaltar que grande parte das pessoas com deficiência visual não chega a se queixar da cegueira em si, mas sim da dependência do outro, gerando algumas limitações importantes que na maioria das vezes poderiam ser sanadas caso houvesse mais investimento em acessibilidade.
Além de lidar com os impactos limitantes na rotina, a exclusão social também causa consequências importantes. A falta de mobilidade urbana muitas vezes tira o ânimo da pessoa que já prevê as dificuldades, como por exemplo a locomoção nas ruas sem a devida sinalização, obstáculos suspensos, falta de estímulos auditivos nos sinais de trânsito, buracos, entre outros. Esse sentimento pode abrir espaço para raiva, culpa e angústia, que juntos aumentam o risco de desenvolver depressão. Além de todo o processo de luto, de enfrentamento e reabilitação sofridos pelo indivíduo cego, existem outras barreiras a serem quebradas: o preconceito e a exclusão social. De acordo com a Faculdade de Medicina da Espanha, situações como essas, acabam resultando em isolamento social ou levando a um declínio físico substancial. Por esse motivo, as pessoas com deficiência acabam se tornando dependentes de sua família associando-se também à falta de oportunidades no mercado de trabalho, e, com isso, a saúde desses indivíduos acaba ficando cada vez mais debilitada, provocando sintomas da depressão como não querer levantar da cama, ataques de pânico, ansiedade paranoide extrema, melancolia e ideias suicidas. Essa depressão, se não tratada corretamente, pode perdurar por muito tempo, resultando em sérios prejuízos à vida do paciente, refletindo no trabalho, na família e comprometendo também os momentos de lazer.
Além disso, podemos afirmar que a depressão é a maior barreira ao cumprimento de programas de reabilitação funcional/visual em adultos e idosos com deficiência visual e cegueira. Alguns autores verificaram que a manifestação comportamental da depressão, como sentimentos de tristeza, apatia, fadiga e queixas somáticas, complicam os esforços dos profissionais de reabilitação em intervir e em ganhar confiança com a adesão desses indivíduos ao processo de reabilitação.
Com base nos meus estudos e na leitura de diversos artigos, consigo refletir um pouco mais sobre a temática. Apesar de entender que ainda preciso aprofundar mais os meus conhecimentos, concluo que a pessoa cega deve ter as mesmas oportunidades que qualquer outra pessoa, para que ela possa buscar a sua autonomia e seu papel na sociedade, trabalhando, se divertindo, se apaixonando e tendo visibilidade em sua comunidade e, para que isso seja efetivado, é imprescindível o entendimento de que as pessoas com deficiência possuem o mesmo direito que as pessoas que não têm deficiência. E é por essa questão que devemos enfatizar o quão importante é um processo de reabilitação após a perda da visão e também a importância relacionada ao processo terapêutico.
REFERÊNCIAS:
https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/3023/DissFDS.pdf?sequence=1
https://essencecuidados.com.br/saude-das-pessoas-com-deficiencia/
http://newpsi.bvs-psi.org.br/tcc/232.pdf
https://seer-adventista.com.br/ojs3/index.php/RBSF/article/view/932
https://www.scielo.br/j/rbp/a/gC5yf6KyWB7F4wBc7ChbcKv/?lang=en&format=pdf
https://www.scielo.br/j/abo/a/z4YbD3F8PGr3pMtsHpBpLJR/?lang=en#
https://www.fag.edu.br/novo/pg/congressoeducacao/arquivos/2019/DEFICIENCIA-VISUAL-1.pdf
NUNES, S., LOMÔNACO, J.F.B.: O aluno cego: preconceitos e potencialidades. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, SP. Volume 14, Número 1, Janeiro/Junho de 2010: 55-64. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pee/v14n1/v14n1a06. Acesso em: 04 out 2018.